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DO JARDIM DE INFÂNCIA AO ENSINO FUNDAMENTAL

UM OLHAR PARA O APRENDIZADO



A criança passa por fases de aprendizado bem diferentes. Se você conhece um pouquinho da Pedagogia Waldorf, provavelmente já ouviu falar das três forças anímicas PENSAR, SENTIR e QUERER.

Estas são forças de relação do ser humano com o mundo circundante e se desenvolvem em consonância com o corpo e suas estruturas: física, vital, emocional e cognitiva.

Todo o currículo waldorf é estruturado a partir desse conhecimento e vem apoiar, de forma saudável, o desenvolvimento da criança de forma que as estrururas físicas fiquem fortes e inteiras; a vitalidade seja preservada proporcionando saúde e preservando todos os processos cognitivos que derivam desse corpo etérico; apresentando imagens adequadas que conduzam o corpo das emoções a relações afetivas íntegras; e preparem o pensar conceitual de forma viva e investigativa.

QUERER Nos primeiros sete anos a força que está disponível na criança para o aprendizado é prática, direta, imediata. CONCRETA. Esta inteligência já existe quando o cérebro ainda não tem a estrutura lingüística para a reflexão ou assimilação racional. Vendo que a inteligência prática, volitiva, é a primeira atividade inteligente à nossa disposição para aprender da vida, devemos concluir que tudo que tem a ver com a vida prática é o que forma o ser humano no primeiro setênio da vida.


Todos os objetos, todas as formas, luzes, cores, gestos, movimentos, cheiros, sons, são assimilados, interiorizados inconscientemente através de experiências sensórias e da imitação. O que se desenvolve preponderantemente até a idade escolar é o organismo físico, é o aprender a viver com o organismo físico em sua relação com o espaço ao redor e com o tempo.


Assim como as pessoas gostam de guardar coisas numa arca ou num cofre, assim também a criança vai colecionando imagens, vivências, conhecimentos em sua alma. Ela cria seu mundo interior e este mundo não é feito de conhecimentos abstratos, racionais, que seguem a lógica racional do adulto; ele ainda é envolto no véu da fantasia e dos desejos, do "faz de conta", de sonhos.


Na pedagogia Waldorf consideramos sempre o aspecto global do desenvolvimento em evolução e o fato de que cada fase evolutiva prepara a próxima, de maneira correta, quando suas forças ativas são respeitadas e estimuladas. Por isso devemos fomentar de todos as formas possíveis a força do querer na primeira fase, na idade pré-escolar, época em que a criança freqüenta o Jardim-da-Infância, oferecendo-lhe todo tipo de oportunidades para que imite os atos sensatos dos adultos e desenvolva sua fantasia no brincar. Ela está aprendendo a viver através da imitação e da espontaneidade na comunicação com o meio ambiente e a natureza.


Importância do Meio Ambiente


Muitos lares já não oferecem um pólo seguro e aconchegante tal como a criança precisaria. Se ela for muito cobrada ou deixada livre demais, se ela não encontrar um ambiente agradável para imitar, para aprender a viver, muito cedo criará uma situação de apreensão, de medos e dúvidas e, por isso, uma diminuição da força volitiva que está aberta para aprender e evoluir. Pois a força da imitação é realmente uma escola para a vida. Ela atua na criança como o primeiro meio de comunicação com o mundo ao redor. Ela reage espontaneamente a qualquer estímulo. Tudo no adulto, os pensamentos, as alegrias e tristezas, medos e sustos, a destreza e a incapacidade, o modo corajoso, o medroso de enfrentar situações da vida, tudo , tudo ela absorve, assimila como predisposições caracterológicas.


Cabe dizer que este primeiro período de aprendizado da vida ocorre naturalmente, não precisa ser imposto; é só deixá-lo acontecer e, como educador, oferecer o meio adequado.


SENTIR

Podemos chamar a força que reina no interior da criança de força do sentir, a inteligência dos sentimentos, das emoções, dos afetos. Esta força predomina no relacionamento com o mundo a partir da troca dos dentes, no fim do primeiro setênio. É a força inteligente com que devemos trabalhar quando a criança entra no Ensino Fundamental. É a força que sabe aprender da vida, que quer aprender a aprender. É a fase da máxima disposição para aprender, para ser direcionado, guiado e instruído através da motivação emotiva, da imaginação, da "inteligência afetiva". Tudo que entra por este caminho no mundo interior da criança é aceito como um alimento agradável e se torna conteúdo importante na arca da criança, ou seja, no jardim da alma infantil.


Depois da troca dos dentes, o que se sobrepõe no desenvolvimento é o organismo emocional, da relação afetiva com o mundo físico ao redor. O que é inteligente, então, para a captação do mundo é o SENTIR, que representa de forma meio consciente o mundo em imagens. É inteligência imaginativa. Ela passará por vários estágios, aprofundado-se e tornando-se paulatinamente mais objetiva e conceitual.

Maturidade Escolar


Em torno dos seis anos, a criança perde, paulatinamente, o impulso da imitação, não quer mais brincar como antes e quer ser igual aos grandes. De muitas formas, ela mostra que a sua segurança anterior do aprendizado espontâneo está se perdendo e uma atitude de comunicação está querendo surgir. Se anteriormente a criança reagia mais pelo que fazíamos, agora se interessa cada vez mais pelo que falamos. Na escola, então, ela aprenderá outras tantas habilidade frutíferas para a fase futura do pensar, apenas se apelamos à força inteligente do SENTIR, da imaginação ou representação pictórica no ensino básico entre os 7 e 14 anos. O sentir imaginativo bem estimulado é o melhor preparo para o futuro pensar rico e criativo. É perder tempo enfraquecer a força volitiva da criança se antes da época certa, insistirmos para que aprenda letras e cálculos ou definições de objetos, conjuntos, etc. Da mesma forma é perder tempo esimular o cérebro e o caráter no segundo setênio, se forçamos os alunos avaliar, criticar e julgar porque eles ainda não têm estrutura psíquica-racional adequada. Avaliar e julgar só podemos fazer corretamente, ou seja, objetivamente, quando temos os conhecimentos básicos necessários. Esses conhecimentos a criança assimila antes na sua forma subjetiva, sendo guiada a observar e reproduzir ou registrar com carinho e exatidão o mundo que o professor lhe apresenta. Assim ela cria uma base moral sólida em sua inteligência afetiva que lhe servirá como alicerce sobre o qual poderá edificar um raciocínio lógico, seu instrumento próprio para julgar e avaliar a si própria e ao mundo.

A questão da maturidade escolar deve ser tratada com profundidade. A criança está pronta para começar o aprendizado direcionado quando o seu físico, a sua relação social e o seu pensar demonstram o fim da fase anterior. O que deve estar pronta para ser usada, então, é a força da imaginação que representa e recorda fatos e vivências por estímulo próprio. Quando a criança adquiriu uma maturidade social para sentir-se à vontade fazendo parte de um grupo e desenvolveu a sensibilidade para sentir como o grupo e ela formam um todo, então ela está madura para aceitar ordens, solicitar indicações e procurar na autoridade do professor um novo pólo de segurança, que substitui a força da imitação, agora enfraquecida. Ela aceita o certo e o errado, o bom e o mau como algo inquestionável.


DIFICULDADES

Muitas vezes falta maturidade física, como lateralidade indefinida, motricidade fina pouco desenvolvida, e por isso o processo em adquirir habilidades é vagaroso. Consciência e vivência espacial vão junto com a segurança do equilíbrio no pular corda em pés diferentes, etc. Importante é ver como estão desenvolvidos os sentidos, vias de acesso ao desnvolvimento motor: tato, propriocepção, equilíbrio, visão, audição, etc. A fala é articulada e usada corretamente? Importante é saber que em situações típicas, num ambiente adequado, a maturidade escolar é um processo natural da evolução, é só percebê-lo e apoiá-lo. Algumas crianças demoram mais, outras menos. Hoje existem cada vez mais crianças com marcante imaturidade psíquica ou neurológica. Mas quando sabemos que cada passo que a criança deve dar ocorre num ritmo cronológico, não nos deixamos enganar por uma ou outra precocidade intelectual, emocional ou física. Qualquer unilateralidade no desenvolvimento infantil requer de nós um trabalho específico para harmonizar e equilibrar as três forças básicas e estimular a força da alma que deve dominar em cada fase.


Assim, veremos que uma criança precocemente esperta pode ter pouco controle do seu sistema motor e dificuldades com a escrita, ou desenho, etc. Neste caso, a inteligência corporal sofreu, a força da vontade ficou fraca e, se não cuidarmos, veremos surgir o hipercinético, o neuropata, etc. Isto significa que lhe falta um instrumento físico-psíquico adequado para usar a inteligência e desenvolvê-la.


Por outro lado, a criança que continua com atitudes psíquicas infantis, impróprias para sua idade, precisa da nossa ajuda para desenvolver a necessária autonomia que lhe permita integrar-se e aprender num grupo, seguindo ordens e indicações do professor. Em torno dos sete anos, uma criança crescida, normalmente, em condições ambientais adequadas, adquire as características físicas, psíquicas e racionais que chamamos de maturidade escolar. É a idade em que devemos escolarizar as crianças. O ensino, porém, ainda deverá respeitar a maior ou menor prontidão de cada aluno individual.


Esse texto foi inspirado pelo texto da professora Leonore Bertalot em seu livro "Aprender com Crianças"









 
 
 

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