RETORNO ÀS AULAS
- colmeiajardimdeinf
- 6 de fev. de 2021
- 3 min de leitura

Uma reflexão -
Esta semana vimos circular pelas redes um texto da Eliane Brum, escritora, repórter e documentarista sobre a volta às aulas no panorama da pandemia. Alguns trechos desse texto nos inspiraram para a reflexão abaixo.
Temos recebido muitas perguntas de como estamos pensando o retorno da Colmeia. Esse é o assunto do momento, uma vez que essa é uma grande necessidade. Mas é também uma ótima oportunidade de reflexão sobre o papel da escola na vida das crianças e da sociedade.
Um primeiro pensamento é tentar entender ssa polaridade que está posta entre saúde e educação. Aqui precisamos abrir um parêntese para a antroposofia de Rudolf Steiner. Ele sempre deu ênfase à premissa de que todo ser humano é, por nascença, doente, e que a educação é o caminho da saúde. Entendendo doença como vulnerabilidade e educação como processo de saúde e desenvolvimento.
Precisamos, urgentemente, sair dessa dicotomia de um debate que coloca saúde e educação em lados opostos. A escolha de saúde, assim como de preservação da vida na pandemia precisa ocupar o lugar de responsabilidades e estratégias. Nesse sentido, qual o papel da escola?
A escola não está fechada! Isso precisa ser entendido. Ela está com as atividades presenciais suspensas, mas não fechada.
Seu papel é essencial e temos tomado consciência disso nesses tempos, mas ela precisa ser pensada para além do território, do prédio físico. Suas outras dimensões estão gritando para nós sobre a importância de sua abrangência social, afetiva e cultural para além do cotidiano das crianças. Estamos vendo que a família não basta no processo educacional, educação não se faz sozinho, nem fechada entre quatro paredes!
Um outro ponto que tem sido motivo de muita angústia entre as famílias é: onde vou colocar meus filhos para poder trabalhar? É uma questão importante, mas não deveria ser o mote dessa reflexão. A escola existe para que seja um espaço de educação e desenvolvimento, de relações, de diversidade e possibilidades de experiências. É um lugar de construção social, de formação de comunidade e manutenção do pacto coletivo de existência!
Não sei se vocês conhecem um documento chamado manifesto Ocupar Escolas, Proteger Pessoas, Recriar a Educação, assinado por várias organizações ligadas à educação e à saúde. Aqui segue um pequeno trecho desse manifesto:
“A pandemia desagregou o sistema educativo e a discussão sobre sua reorganização mantém-se no dilema da volta ou não às aulas presenciais. Um problema complexo, com vários níveis, dimensões e interfaces, foi simplificado como se fosse uma simples escolha dual: abrir escolas ou manter suspensas suas atividades. Pior, a suposta dicotomia rede pública e privada, utilizada com frequência para sustentar a desvalorização do que é público estatal, é falaciosa mesmo se tocarmos exclusivamente na questão da infraestrutura. É preciso construir caminhos para superar o negacionismo e os falsos dilemas no campo da Educação.
Temos visto também um confronto entre sindicatos das escolas particulares exigindo a volta das atividades presenciais e o sindicato dos professores mostrando o lado das escolas públicas e suas precariedades para um retorno seguro. Mais uma vez precisamos pensar educação como um todo, não como interesses particulares. É possível para todos? E “todos” inclui crianças, famílias, professores, funcionários da escola.
Por isso, pensamos que seja o momento de criar oportunidades de trocas, de fortalecimentos de laços afetivos pessoais e sociais, de resistência criativa e de solidariedade.
Portanto, até que os profissionais de educação sejam vacinados e as autoridades de saúde sanitária assegurem a reabetura dos espaços físicos da escola, podemos aproveitar essa oportunidade imposta para refletirmos de forma mais profunda sobre educação escolar! Sobre o valor do professor! Sobre as propostas pedagógicas das escolas! Sobre os olhares e conduções nesses espaços! Sobre a participação efetiva das famílias nessa construção e manutenção.
Na Colmeia temos refletido sobre criar, na escola, um espaço de saúde e vitalidade. Estamos organizando nossos espaços externos, revitalizando, implementando condições para que os protocolos possam ser seguidos com segurança; e repensando a prática que um novo lugar impõe. Os ritmos diários até então seguidos terão outro lugar, um lugar que os tempos atuais exigem. Pensar profundamente o que tudo isso impacta no desenvolvimento humano e como, a partir de agora, precisamos caminhar, tem sido uma de nossas reflexões mais profundas.
Manter o pacto social como forma de minimizar as forças adversas do egoísmo e do individualismo tem sido outra fonte balizadora e pilar de uma proposta pedagógica que tem como fundamento aprimorar o que há de humano em nós: nossa humanidade, entendida aqui como relação constante entre indivíduo e sociedade, como corresponsáveis no desenvolvimento da trimembração do organismo social.

Comments